IVC Venezuela: A consagração do “Matador de Brasileiros”

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Na semifinal Brazuca, ngelo venceu Cyborg em 9min de luta duríssima
A disputa entre Brasil e EUA contribuiu na divulgação do evento na Venezuela

Brasil x EUA. O confronto entre as duas maiores potências do Vale-Tudo mundial foi o mote utilizado por Sérgio Batarelli para promover a primeira edição internacional do seu IVC. 

Realizado no dia 11 de setembro de 2001 em Caracas, Venezuela, a 14º edição do IVC foi uma maratona de Vale-Tudo que consagrou Alex Stiebling. Após vencer quatro brasileiros na mesma noite, o americano passou a ser conhecido mundialmente como Brazilian Killa  

Texto e fotos Marcelo Alonso

MARATONA DE VALE-TUDO

Em Novembro de 2001, depois de quase dois anos sem realizar um evento no Brasil, Sérgio Batarelli decidiu voltar com tudo, fazendo um torneio eliminatório de 16 lutadores, sendo 11 brasileiros, 1 canadense e  4 norte americanos. Para vencer, o campeão teria que passar por nada mais nada menos que 4 oponentes, praticamente seguidos.

Teoricamente a vantagem numérica dava um favoritismo natural aos brasileiros que tinham ainda os lutadores mais pesados e experientes como The Pedro, Ângelo Araujo, Clayton Mangueira, Jeferson Tanque e Evangelista Cyborg, mas só mesmo na teoria. Quando a chave do torneio foi divulgada, a vantagem se reverteu. Uma vez que para reequilibrar a vantagem numérica, os favoritos brasileiros foram colocados do mesmo lado da chave e acabaram se exterminando, deixando o caminho aberto do outro lado, para Alex Stiebling, que enfrentou os brasileiros mais leves da competição.

A MARATONA DE ANGELO ARAÚJO

Para vencer um torneio normalmente a sorte é mais importante que a técnica. O paranaense Ângelo Araujo comprovou esta máxima ao receber a chave do IVC Venezuela. “Parece que de um lado é um torneio de pesados e do outro um torneio de médios, Seu Batarelli assim vai prejudicar os brasileiros”, me disse Ângelo ao perceber que para chegar a final teria que passar numa peneira com The Pedro (100kg), Clayton Mangueira (115kg), John Ivey (125kg), Jeferson Tanque (98kg), Aaron Sulian (110kg) e Evangelista Cyborg…

Ângelo começou a maratona de lutas enfrentando seu maior parceiro na viagem, Clayton Mangueira, com quem travou uma violenta batalha de 10 minutos. O paranaense, que vinha de 3 vitórias no Meca, venceu por pontos, mas saiu debilitado para a segunda luta com o favorito The Pedro, que vencera o americano Jonathan Ivey com socos da lateral a 3min12s. 

Para sorte de Ângelo, o carioca decidiu não voltar. “Acabei de vir de um evento na Rússia onde machuquei o olho e não estou enxergando bem. Não tenho que provar nada a ninguém. Tenho 50 lutas e 40 vitórias, três fitas em locadora e nunca fui finalizado. Não vou arriscar minha visão por mil dólares”, declarou logo após a luta o figuraço The Pedro. 

No lugar de Pedro,  Araujo venceu com tranqüilidade John Renken, que havia sido nocauteado na primeira luta para Jeferson Tanque. 

Na semifinal, porém, Ângelo pegou outra pedreira, Evangelista Cyborg, que vinha de dois nocautes rápidos (sobre Aaron Sulivan em 13segundo e Jeferson Tanque em 2min28s).  Ângelo e Cyborg fizeram uma luta duríssima com muita trocação, até que aos 6 minutos, o paranaense montou nas costas de Cyborg e passou desferir socos em sua cabeça por quase 4 minutos. Diante da ausência de reação do atleta da Budokan, o juiz e dono do evento Sérgio Batarelli achou por bem intervir a 9min22s. “Ele deu uma cotovelada na minha nuca e o corpo adormeceu. Estava lúcido, mas o corpo não conseguia reagir”, contou Cyborg.

Após 20 minutos de luta, Ângelo saiu carregado do ringue e passou dez minutos debaixo do chuveiro tentando se recuperar para a final com um bem mais inteiro Alex Stiebling. 

Na chave de ngelo estavam todos os favoritos brasileiros como Clayton Mangueira (foto), The Pedro, Tanque e Cyborg

OS MAIS LEVES PARA STIEBLING

Grande revelação do IVC Venezuela, Alex Stiebling (90kg) começou muito mal no torneio. Fazendo sua primeira luta com o bem mais leve Claudio das  Dores (82kg), o americano passou por maus momentos nos primeiros cinco minutos. 

Depois de derrubar duas vezes o americano, o representante da Luta-Livre chegou a montar e encaixar um mata-leão, mas Stiebling resistiu e cansou o brasileiro, que acabou batendo a 40 segundos do final com uma chave de calcanhar. “Sai do ringue abatido sabendo que não conseguiria chegar a final depois de mais duas lutas daquelas”, reconheceu Alex. 

Mas a sorte estava ao seu lado e sua chave acabaria sendo um descanso natural. 

Na sequência Stiebling aplicaria o nocaute mais rápido da noite sobre o faixa preta da Nova União, Leandro Ribeiro, que vencera a sua primeira luta fazendo submission com o aluno de Carlson Antônio Sargento. Na realidade Leandro viera acompanhar Rodrigo Riscado, mas com a debandada de 3 americanos fora convidado por Batarelli para lutar com outro técnico, Antonio Sargento, que viera acompanhando The Pedro. Desta marmelada-submission saiu o segundo adversário de Stiebling.

Na semifinal Stiebling enfrentaria uma das surpresas da competição, o goiano Milton Bahia. Conhecido por suas duríssimas lutas com Pelé Landi no IVC, Milton, com apenas 82kg entrou de Kamikase no torneio e emplacou dois nocautes impressionantes. Primeiro sobre o grandalhão canadense Mike Hunter (120kg), que apagou após levar um série de seis socos complementados por uma joelhada certeira. Depois sobre o faixa preta de Jiu-Jitsu Rodrigo Riscado (90kg), que havia finalizado em 29seg com um armlock o grandalhão Wellington Wilkins (110kg).

Sem conseguir colocar Bahia para baixo, Riscado partiu para a trocação e acabou tendo seu nariz quebrado. O sangramento acabou levando os médicos a interromperem a 2min11seg. Na saída do ringue um empolgado Bahia prometeu dar trabalho a Stiebling. “No IVC lancei o mata-barata (pisão no rosto projetando a perna por dentro da guarda do oponente e o Bahia Jump (salto de cabeça por dentro da guarda do oponente), hoje vou lançar o Taz Bahia que é um chute rodado, que se pega na cabeça do oponente, amputa”.

Mas na semifinal com Stiebling, Milton não conseguiu cumprir o prometido. Após breve trocação, o goiano clinchou e tentou derrubar o americano, que, aplicando uma cambalhota, encaixou um leg-lock e obrigou o brasileiro a bater.  

Milton Bahia foi finalizado por Stiebling na semifinal

    

STIEBLING VENCE ANGELO NA FINAL     

Mesmo estando totalmente debilitado na final, Ângelo começou melhor e derrubou Stiebling encurralando o no córner, onde passou a desferir dezenas de socos por dentro da guarda do oponente, mas para infelicidade da torcida brasileira, o juiz Batarelli decidiu voltar a luta em pé. Nitidamente exausto o brasileiro acabou virando presa fácil para o americano, que o derrubou, pegou suas costas e encaixou um mata-leão a 4 minutos de luta para delírio da torcida local, que após a saída de The Pedro, passou a torcer pelo americano. “Ele pegou a chave mais difícil e estava em condições físicas piores, por isso entrei tranquilo”, disse o campeão, que faturou 10 mil dólares de prêmio. Muito chateado após a luta, Ângelo pediu a revanche. “Se pegasse esse americano de cara teria escangalhado ele. Estes 10 minutos de guerra com o Mangueira de cara acabaram comigo”, disse Araujo.

No final o próprio promotor do evento reconheceu que a chave acabou sendo definitiva. “O Ângelo foi campeão moral do torneio. Infelizmente 3 americanos debandaram em cima da hora por isso tive que trazer lutadores leves”.

O MATADOR DO MATADOR 

Meses após vencer o IVC, Stiebling seria contratado pelo Pride. Na época o maior evento do mundo. 

Fazendo sua estréia no Pride 18, Stiebling confirmaria sua fama de matador de brasileiros vencendo Allan Góes por nocaute técnico no 3º round. 

Na edição seguinte, outro aluno de Carlson Gracie seria vencido pelo Brazilian Killa, desta vez por pontos: Wallid Ismail.

Com seis brasileiros no currículo, Stiebling foi convidado a enfileirar sua sétima vítima, um garoto da Chute Boxe, que costumava lutar duas categorias abaixo, chamado Anderson Silva. A confiança de Stiebling era tanta que além do Brazilian Killa na parte da frente do short, o falastrão adicionou na parte de trás “Royce Who ?” Royce quem ? Desta vez, porém, o matador pagou com a língua, ou melhor, com o supercílio. Aberto pelo brasileiro com uma canelada logo no início da luta. O corte foi tão profundo que o sangramento levou os médicos a interromperem a luta.  

Desde esta derrota Stiebling nunca mais seria o mesmo. Em 2004, perderia para Minotouro por pontos no Pride e em 2009 seria nocauteado por Murilo Ninja no Bitetti Combat.