Dois meses depois de realizar a primeira edição do Universal Vale Tudo Fighting em seu país, em março de 1996, o empresário japonês Hideki Miura promoveu a segunda edição do evento em solo brasileiro. Mais especificamente na casa de shows Metropolitan na Barra da Tijuca que recebeu, no dia 24 de Junho, um publico de 4 mil pessoas para assistir sete super lutas nas regras do Vale-Tudo. Seis delas entre brasileiros e estrangeiros. E se na primeira edição, em Tóquio, os representantes da Luta-Livre e Jiu-Jitsu brasileiros venceram 6 das 8 lutas, em casa, o aproveitamento foi de 100%.
CARLÃO, BITA E THE PEDRO TRATORIZAM
O primeiro combate da noite foi o único entre brasileiros. O faixa preta de Jiu-Jitsu Adilson Lima, o Bita (1,76m/96kg) trouxe uma legião de 150 alunos de teresópolis para assisti-lo atropelar em 3min27 o paulista Rackcal “Índio” Rodrigues (1,76m/86kg) representante do Free Style. Bita, que vinha de derrota para Igor Vovchanchyn na Rússia em novembro de 1995, cinturou, montou e estrangulou o oponente, iniciando a noite consagradora do MMA nacional.
Na segunda luta do show foi a vez de The Pedro (1,90/100kg) vencer com tranqüilidade, com socos da montada, o boxer cubano Adolfo De La Rosa (1,85m/80kg). Se no UVF 1, The Pedro havia vencido de virada o gigante do Sumo Koji Kitao na luta principal do evento, desta vez definiu o combate em 2m53s.
Outro grande destaque do UVF 1, Carlão Barreto (1,94/95kg), que havia estreado nos ringues finalizando Yuri Micha, subiu no cage na seqüência para enfrentar o americano John Dixon (1,80/120kg). Três meses antes Dixon havia feito três lutas seguidas num torneio na Rússia, onde havia vencido dois locais só perdendo na final para Igor Vovchanchhyn numa guerra de quase 10 minutos. Carlão começou dando um susto na galera. Na tentativa de derrubar o americano, escorregou e caiu por baixo. Percebendo o bom momento o americano o empurrou contra a grade tentando atingi-lo com joelhadas e socos. Mas, com a calma de sempre, Carlão ouviu as instruções do mestre Carlson em seu córner, se protegeu e aproveitou o ímpeto do americano para raspá-lo, montando na seqüência e definindo a luta com socos a 1m38s.
HOMENAGEM A HÉLIO NA ESTREIA DE ROYLER
No intervalo das lutas, Miura e seu parceiro João Alberto Barreto fizeram uma justíssima homenagem ao mestre Hélio Gracie . que recebeu uma placa, sendo aplaudido de pé pelo público. Minutos depois seu filho Royler Gracie (1,72m /64kg) faria sua estréia oficial no Vale-Tudo finalizando em apenas 1m33s o canadense Ivan Dee (1,64m/63kg). Três semanas depois o Gracie repetiria a mesma receita no Japão finalizando com um mata-leão campeão do Shooto Nobohru Asahi, que já tinha 21 lutas e apenas uma derrota na decisão.
Wallid Ismail (1,70/85kg), que no UVF 1 vencera o australiano Denis Kefalinus, subiu ao cage logo após Royler precisando de 4 minutos para finalizar o japonês Tatsumi Usuda (1,75/87kg) também com um mata-leão.
HUGO DUARTE ATROPELA GIGANTE EM 8 SEGUNDOS
Quando o nomes de Hugo Duarte (1,83m/98kg) foi anunciado por Fernando Vanucci, a torcida do Jiu-Jitsu, em maior numero, ensaiou uma vaia e soltou o coro. “Recordar é viver o Rickson acabou com você”. A pilha pareceu motivar o general da Luta-Livre que não deu nem chances para o gigante americano Gerry Harris (2,07/127kg), que havia perdido para Paul Varelans no UFC 7. Assim que a luta começou, Hugo encurtou, cinturou e arremessou o grandalhão no chão com um kataguruma, definindo a luta com uma saraivada de socos da montada. O atropelo calou a torcida do Jiu-Jitsu e acordou a da Luta-Livre que retribuiu gritando o nome do ídolo . “Hugo ! Hugo ! Hugo !”
BUSTAMANTE DÁ AULA EM OPONENTE 31KG MAIS PESADO
Depois de duas alterações, primeiro seria Tank Abbott e depois Paul Varelans, o representante do Jiu-Jitsu Murilo Bustamante (1,87m/89kg) acabou enfrentando o americano Joe Charles (1,87/120kg) fechando o evento com o melhor combate da noite.
Assim como Carlão, Bustamante começou caindo por baixo sendo imprensado na grade pelo oponente, mas logo conseguiu uma bela raspagem, chegando a montada com 2 minutos de luta. Na seqüência Murilo colocou o joelho na barriga do oponente e fez chover pedras, me garantindo a imagem da capa da Tatame daquele mês. O americano ainda conseguiu escapar e voltou de pé, mas o faixa preta de Carlson não tardou a chegar as suas costas, saindo de uma gravata técnica, derrubando o oponente, na seqüência e definindo a luta a 3m08s com um Katagatami, fechando a goleada brasileira.
Apesar de não ter trazido ao Brasil oponentes a altura dos nossos lutadores, a segunda edição do UVF foi considerado um grande sucesso, principalmente por resgatar a auto-estima da comunidade da luta no Brasil, que vinha abalada com o vexame mundial promovido por Carlos Alberto Scorzelli naquele Desafio Internacional no Maracanãzinho, em outubro de 1995. O fato é que graças ao UVF de Miura, o WVC de Frederico Lapenda e o IVC de Sérgio Batarelli, o mercado brasileiro resgatou sua credibilidade no exterior, passando a produzir grandes eventos e exportar talentos para o UFC e o Pride.