Realizada no dia 26 de agosto de 1999 no esporte Clube Sírio em São Paulo, a 12º edição do International Vale Tudo Fighting de Sérgio Batarelli foi marcada por uma vitória tranquila de Carlão Barreto, campeão peso pesado do evento, sobre o wrestler Gary Myers na super luta e pela consagração de um novo representante do Jiu-Jitsu no Vale-Tudo, Ismael Souza, que foi campeão do torneio até 80kg, vencendo três oponentes.
Medindo 1,81 e pesando 84kg, Ismael Souza hoje estaria lutando na divisão até 77kg, mas nos tempos do Vale-Tudo, onde as oportunidades eram escassas, o jeito era estar sempre disponível. A bem da verdade o IVC 12 foi o primeiro desafio com limite de peso (até 90kg) para o representante da Alliance, que já havia lutado 18 minutos com The Pedro (102kg) no IVC 3 e também havia aceitado ser reserva de Oleg Taktarov contra o gigante Sean Alvarez no Pentagon Combat.
*Texto e fotos: Marcelo Alonso
EZEQUIEL COM A BANDAGEM
Sete meses antes do IVC 12, Ismael havia surpreendido dois oponentes muito mais pesados num Vale-Tudo em Castanhal, no Pará, finalizando ambos rapidamente com o mesmo estrangulamento da montada (Ezequiel). “Infelizmente alguém falou para o organizador que eu usei a munhequeira pra aplicar o Ezequiel. Mesmo sem ter nenhuma regra proibindo o uso de munhequeiras ou bandagens no pulso me desclassificaram e não deixaram eu fazer a final com o Paulo Afonso, que acabou sendo campeão em cima do cara que eu havia acabado de finalizar. Foi revoltante ! ”, relatou a época Ismael. Vale observar que até os dias atuais não seria proibido na maioria dos eventos de MMA, bastando que a bandagem no pulso fosse autorizada pela comissão a atlética local. Afinal de contas o atleta pode segurar em qualquer equipamento seu, o que ele não pode é segurar no do oponente”.
Se sentindo injustiçado no Pará, Ismael chegou focado para vencer o torneio em São Paulo, pegando logo na primeira luta o americano Adrian Serrano (1,77/86kg). A quem o faixa preta não tardou a botar pra baixo, montar e finalizou com um mata-leão em apenas 2min26s. “Quando montei tentei o ezequiel, passei pro esgana galo, aí ele deu as costas pra se defender e deixou o pescoço”, narrou o atleta da Aliance, que enfrentou na semifinal o kickboxer Cleisson Fofão (1,86 / 90kg). “Ele havia nocauteado o primeiro oponente só com chutes nas pernas, então sabia que tinha que clinchar rápido”. Dito e feito. Assim que o gongo soou, Ismael clinchou, derrubou e pegou no ezequiel a 1min25s. Na grande final Ismael pegou a revelação do evento, o primo de Claudionor Fontinelli, Magno Penha (1,77m/86kg), que havia vencido Emerson Avila com um armlock (2min02s) e Marcelo Silva na semifinal com uma guilhotina aos 15 segundos.
Ismael começou derrubando Magno mas não conseguiu estabilizar. Muito explosivo, o maranhense voltou em pé trazendo emoção ao combate com os dois lutadores passando a buscar o nocaute. E na disputa em pé Ismael acabou levando a melhor conectando um cruzado que cortou o supercilio de Magno e obrigou os médicos a interromperam a luta aos 7min43s. Enquanto Batarelli colocava o cinturão em Ismael seus parceiros de equipe, Leonardo Vieira, Castello Branco e Alexandre Paiva, faziam a festa puxando o coro da torcida. “Ah Uh Uh ! Uh é Alliance ! “ “Agora que ganhei o torneio espero ser convidado para as superlutas, chega de torneio, é cansativo demais”, reclamou Ismael. Infelizmente no ano seguinte o casca-grossa, que já começava a ser sondado pelo Pride, sofreu um grave acidente numa exibição de Jiu-Jitsu, onde prendeu o pé no tatame e acabou rompendo 4 ligamentos e o nervo fibular. Ismael chegou a fazer 4 cirurgias (2000,2001 , 2003 e 2008), mas infelizmente teve que se afastar das competições de Kimono e Vale-Tudo, mas não do esporte. Hoje Ismael é faixa coral de Jiu-Jitsu e presidente da CBJJP e IPJJF.
Carlão vence e desafia Plateia
Na superluta do evento o campeão pesado do IVC Carlão Barreto (1,94m – 108kg) enfrentou o wrestler americano Gary Myers (1,76m – 100kg), que havia perdido para Wallid no IVC 5. E a luta deixou a desejar. Carlão passou todo o primeiro round cinchado a Myers nas cordas, acertando tostões em sua perna. Até que aos 8 minutos o americano não aguentou mais e pediu pra parar, desmoronando no chão. Diante do desapontamento do público, refletido em vaias, Carlão pediu o microfone e bradou. “Não tenho culpa se o meu adversário não quis lutar. Esse cinturão é meu e se alguém aí quiser terá que subir aqui e tirá-lo de mim”. Um desafio pra lá de apimentado numa plateia que tinha, entre outras feras, Pedro Rizzo, Ebenezer, Marco Ruas e Renato Babalú.
Quem não gostou nada das vaias do publico foi o promotor Sérgio Batarelli. Esse tipo de atitude só me faz ter certeza que a capital do Vale-Tudo é o nordeste. Lá as pessoas reconhecem um evento deste porte. Aqui em São Paulo as pessoas jogam latas nas câmeras e vaiam os lutadores só porque a luta não foi como elas esperavam. Isto me magoa muito”, disse o promotor do IVC.
CONSELHO MUNDIAL DE VALE-TUDO
Neste IVC 12 Batarelli lançou o conselho mundial de Vale-Tudo (International Vale-Tudo Council) apresentando oficialmente os representantes da nova entidade no mundo todo. Koichi Kawasaki (Japão), Stephane Cabrera (Europa), Miguel Iturrate e Stephen Quadros (EUA). Segundo me revelou em entrevista ao após o evento Batarelli queria começar a fazer um IVC em cada continente. “Após definirmos os campeões asiático, europeu e americano, unificaremos o título mundial, como no Boxe”. Em 2001 Batarelli chegou a realizar a 14º edição do evento promovendo um torneio sem limite de peso em Caracas na Venezuela, mas sem o apoio da TV a realização do evento passou a ser inviável.