A primeira seleção brasileira de Jiu-Jitsu

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A seleção B (Marrom/ Preta). Atrás de pé: Traven, Ryan, Castello, Daniel Simões e Bita; Agachados: Marcelo Tetel, Marcio Feitosa, Socka, Paulo Sérgio, Roni Rustico, Sonequinha, Romel Cardoso e Draculino

Como disse Raul Seixas na canção “Prelúdio”, “Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. Quem vê o Jiu-Jitsu brasileiro hoje espalhado no mundo todo e com um calendário anual super bem planejado e competições informatizadas com até 9 mil inscritos lutando em 40 áreas de luta, não imagina que há 30 anos, o panorama era muito diferente.

Quando Carlos Gracie Jr. fundou a Confederação Brasileira em 1994 e, após realizar o primeiro brasileiro na AKXE e passou a sonhar com a internacionalização do Arte Suave, primeiro com um panamericano e depois com um mundial, muitos o chamaram de maluco. 

Mas Carlinhos deu de ombros e conseguiu convencer toda a comunidade do Jiu-Jitsu a sonhar junto com ele. E foi exatamente graças a este poder de aglutinar rivais e delegar tarefas a aliados competentes, colocando centenas de cascas-grossas unidos lutando pelo mesmo objetivo, que o filho de Carlos Gracie transformou seu sonho na realidade atual do Jiu-Jitsu.

A seleção B (Marrom/ Preta). Atrás de pé: Traven, Ryan, Castello, Daniel Simões e Bita; Agachados: Marcelo Tetel, Marcio Feitosa, Socka, Paulo Sérgio, Roni Rustico, Sonequinha, Romel Cardoso e Draculino

Tive a possibilidade de cobrir, tanto para a revista KIAI quanto para o recém-criado jornal O Tatame, todas as competições realizadas por Carlinhos nestes primeiros anos e não tenho dúvidas em afirmar que a mais emblemática deste “sonho” que ainda parecia distante, foi a primeira seletiva para formar uma seleção brasileira, realizada no dia 25 de Janeiro de 1995 em pleno dojo da Gracie Humaita. A competição, realizada Três meses depois do primeiro brasileiro de Jiu-Jitsu, tinha por objetivo formar a primeira seleção brasileira que, segundo o sonho de Carlinhos, competiria contra os gringos no Panamericano e Mundial. 

Texto e fotos: Marcelo Alonso

SELETIVA EM CLIMA DE FEIRA 

O evento contou com participante de cinco estados (RJ, MG, SC, RGS e RGN) e acabou sendo realizado no dojo da Gracie Humaita por conta de uma atraso na definição do calendário. Como a data só foi definida a menos de um mês da competição, quando o ginásio da Gama Filho já estava ocupado, Carlos Gracie foi salvo pelo primo, Royler que cedeu o dojo da Gracie Humaita para o evento, que por razões obvias não foi aberto ao público. 

Mas mesmo com todo o clima de feira que cercou a competição, um fato já chamava a atenção: Num momento em que rivais de academias distintas mal se falavam, Carlinhos conseguiu reunir representantes de todas as academias no dojo da academia Gracie. Algo que por si só já seria inimaginável até alguns anos. Era o sinal que algo estava mudando.   

QUATRO SELEÇÕES 

Os atletas integrantes da primeira seleção brasileira de Jiu-Jitsu foram definidos de dois modos diferentes: pela classificação no brasileiro de 1994 e pela seletiva. Desta maneira formaram-se quatro equipes, duas de faixas marrom e preta (A e B), sendo a equipe A de titulares e a B de suplentes. Duas de faixa azul e roxa (A e B). A equipe de Roxa e Azul era formada de 10 atletas e a de marrom e preta de 12.

A equipe A marrom e preta foi definida pelo desempenho dos atletas no campeonato brasileiro de 94. Os campeões foram automaticamente classificados, portanto não participaram da seletiva: Fábio Gurgel, Murilo Bustamante, Amaury Bitetti, Royler e Renzo Gracie  

GRANDES CLÁSSICOS À PORTAS FECHADAS

A seletiva foi marcada por grandes clássicos e confrontos curiosos entre faixas distintas como a luta entre o faixa roxa Wagney Fabiano (Ac. Melo) e o faixa azul Gustavo Muggiati (Barra Gracie), vencida pelo primeiro com um estrangulamento. Outro ótima luta foi o clássico entre Ryan Gracie (Barra Gracie), ainda de faixa marrom, e o campeão brasileiro Múzio de Angelis (Alliance) vencida por combatividade pelo Gracie. No outro confronto entre Barra e Alliance,  Hélio “Soneca” Moreira garantiu a vaga no Time B (Alberto dos Santos foi o campeão brasileiro) ao finalizar Paulo Sérgio com um crucifixo.

Roberto Traven garantiu a vaga do pesadíssimo finalizando Arthur Ignarra, faixa marrom da academia Dojo. Depois de passar a guarda duas vezes, Traven montou e estrangulou.

Mas sem dúvida um dos combates mais esperados da seletiva foi o que definiu a vaga do pesado no time B, entre Adilson Bita e Sergio “Bolão” Souza. Após perder a final do brasileiro para Gurgel, Bolão chegou como favorito, mas acabou surpreendido por Bita, que conseguiu passar sua guarda fazendo 3 x 0. Depois de passar pelo favorito, Bita ainda venceu Edson Leandro o “Sansão”. O faixa preta de judo começou na frente com uma bela queda, mas Bita carimbou a vaga raspando, montando e finalizando.

Bita surpreendendo ao passar a guarda do favorito Sérgio Bolão garantindo a vaga no time B (Marrom e preta pesado)

A pergunta que todos faziam para Carlinhos ao final da seletiva era para que fazer quatro seleções brasileiras se americanos e europeus não tinham uma entidade que pudesse organizar o “Time contra” ?  De fato, naquele momento a seletiva parecia não fazer o menor sentido tendo em vista o fato de o Jiu-Jitsu ainda estar engatinhando fora do Brasil. Mas logo depois da seletiva Carlinhos arregaçou as mangas e partiu para a realização do próximo sonho, o Panamericano em 1995 em Los Angeles. Um ano depois da seletiva, o líder da Gracie Barra realizava o primeiro Mundial de Jiu-Jitsu, atraindo para o Tijuca Tenis Clube no Rio de Janeiro mais loucos do Brasil inteiro, da Europa, Estados Unidos e Japão. O resto é história.        

 

SELEÇÃO A (MARROM/PRETA) – Galo: Marcelo “Tetel” Andrade (Sergio Souza); Pluma: Alberto Santos (Carlson); Pena: Royler Gracie (Gracie Humaita); Leve: Renzo Gracie (Gracie Barra); Médio: Ailson Brites (Gracie Barra); Meio Pesado: Amaury Bitetti (Carlson); Pesado: Fábio Gurgel (Alliance); Super Pesado: Murilo Bustamante (Carlson); Pesadíssimo: Rogério Olegário (Oswaldo Alves) e Absoluto: Amaury Bitetti (Carlson)

SELEÇÃO B (MARROM/PRETA) – Pluma: Hélio Moreira (Gracie Barra), Pena: Alexandre Carneiro e Vinicius Magalhães (Gracie Barra); Leve: Ryan Gracie e Marcio Feitosa; Médio: Roberto Roleta e Roni Rustico (Gracie Barra); Meio Pesado: Rommel Cardoso (Gracie Barra); Pesado: Adilson Lima (Gracie Barra); Super Pesado: Leonardo Castello Branco (Alliance); Pesadissimo: Roberto Traven (Alliance); Absoluto: Daniel Simões (Gracie Barra)

 

SELEÇÃO A (AZUL/ROXA) – Galo: Robson Medeiros (Pitbull); Leandro Nyza (Mello TC); Wagney Fabiano (Mello TC); Leve: Eduardo Galvão (Gracie Barra); Médio: Roberto Atalla (Gracie Barra); Meio Pesado: Murilo Ruppi; Pesado: Alexandre Barauna; Super Pesado: Claudio Caldas (Andre Pederneiras); Pesadíssimo: Rafael Carino (Andre Pederneiras); Absoluto: Sérgio Ricardo (Gracie Barra).  

 

SELEÇÃO B (AZUL/ROXA) – Galo: Paulo Coelho (Gracie Humaitá); Pluma: Marcelo Marques (Gracie Barra); Pena: Gustavo Mugiati (Gracie Barra); Leve: Pedro Duarte (Murilo Bustamante); Médio: Carlos Vasconcellos (Andrade); Meio Pesado: Marcelo Ara (Alliance); Pesado: Luiz Saldanha (Gracie Floripa); Pesadíssimo: Andre Mendes (Cesar Guimaraes).