É possível afirmar que Gabriel Silva chegou ao UFC com um privilégio que poucos brasileiros tiveram a sensação de viver: foi escolhido pessoalmente pelo presidente Dana White, que ficou impressionado com as habilidades do peso galo da Team Nogueira. O convite para integrar o plantel de atletas do maior evento de MMA do planeta veio no LFA 63, em março de 2019, quando ‘Gabito’ chamou a atenção ao nocautear o até então invicto Jake Heffernan em míseros 83 segundos, anotando seu oitavo triunfo em oito lutas profissionais. Dana, que estava no local gravando seu reality show “Lookin’ For a Fight”, fez questão de ir até o vestiário após o combate e convocar pessoalmente o brasileiro, que prontamente aceitou a proposta.
A estreia no Ultimate ocorreu em julho passado, num bom e disputado duelo contra o ex-desafiante ao cinturão Ray Borg, que acabou saindo vitorioso na decisão dos juízes. Agora, passado a pressão inicial, Gabriel, aos 25 anos, garante estar pronto para conquistar seu primeiro triunfo no Ultimate. Ele retorna ao octógono no UFC Norfolk, dia 29 de fevereiro, contra Kyler Phillips.
“A maior lição que eu tirei da minha estreia foi saber como funciona o UFC, como é ter toda aquela adrenalina de estar no maior evento do mundo. Eu me considero um cara frio, que não se deixa levar pelas emoções, mas confesso que estar ali foi grandioso, acaba sendo realmente diferente, é uma outra atmosfera. Para essa segunda luta vou entrar bem mais relaxado, já sei como é ter essa emoção e o que fazer para conseguir me apresentar melhor. Estarei melhor tecnicamente, porque acho que cometi algumas falhas contra um cara muito duro, tarimbado, que já disputou o cinturão. Apesar dos erros, fiz uma apresentação boa, tentei corrigir tudo nesse período pós-luta e pretendo mostrar minha evolução no octógono, tanto na parte técnica quanto na parte mental”, garantiu Gabriel.
Superação na infância: o primeiro triunfo
Embora tenha estreado no MMA em 2011, Gabriel obteve sua primeira grande vitória em 2008, antes mesmo de imaginar que seria um lutador profissional. Quando tinha apenas nove anos, foi diagnosticado com uma doença rara na perna chamada Síndrome de Legg-Calvé-Perthes, que não só o impediu de praticar esportes durante sua infância, como também o obrigou a fazer o uso de muletas após passar por uma cirurgia. Cinco anos depois, aos 14, quando fora liberado pelos médicos, contou com um “empurrãozinho” do irmão Erick Silva para ingressar no esporte que transformaria sua vida.
“Foi um momento difícil na minha infância, começou aos 9 anos e foi até os 14, quando o médico me liberou, falou que a doença tinha se estabilizado e eu poderia voltar a praticar minhas atividades normais, mas indicou que eu evitasse esportes de impacto, pois poderia ser prejudicial. Eu estava numa fase difícil, tinha engordado devido ao tempo parado, e foi quando o Erick (Silva), meu irmão, começou a dar aula (de jiu-jítsu) e me levou para a academia”, narrou o peso galo, revelando que a paixão pelas artes marciais surgiu como consequência da rotina de treinos.
“Na época eu não tinha o intuito de ser atleta profissional, era somente para sair de casa, eu estava mal, não podia fazer nada, estava quase começando a ter depressão por não poder brincar, correr, fazer coisas de criança. Meu irmão me levou para academia para ocupar minha mente, mas foi ali que começou minha paixão pelo esporte. Dois anos depois iniciei no boxe e comecei a migração para o MMA.”
Parceria com o irmão famoso
A pressão em lidar com o status de promessa no MMA não é novidade na família Silva. Caçula da família, Gabriel cresceu vendo seu irmão mais velho Erick Silva, ex-UFC e hoje contratado do Bellator, despontar como um dos lutadores mais famosos do público brasileiros. Acostumado aos holofotes da rotina do irmão famoso, Gabito soube tirar proveito da experiência e acumulou conhecimento para sua carreira, transformando o que poderia ser um peso extra em um fator positivo.
“Apesar do sobrenome, de sermos irmãos, não sinto pressão nenhuma por isso, não há nada que me deixe nervoso ou me faça sair do meu propósito. Ele (Erick) sempre conversa comigo e me deixa muito a vontade para fazer a minha própria caminhada, sempre dando conselhos buscando o meu melhor. Ele sempre me ajudou muito, tanto que o maior aprendizado que eu tive ao lado do Erick foi a convivência durante todos esses que moramos juntos, até nos separamos em 2019 (risos). Quando fomos morar juntos eu tinha 18 anos e ele já lutava no UFC, então eu sempre presenciei de perto todas as preparações para as lutas deles, todos os erros e acertos. Foi uma grande escola estar presente nesse meio, e, apesar de ser jovem, obtive uma bagagem muito grande por ter esse tipo de experiência desde muito cedo”, disse Silva.
Uma importante missão: carregar a bandeira da Team Nogueira
Uma das equipes mais renomadas do mundo, a Team Nogueira, assim como o MMA Brasileiro, passa por uma entressafra. Hoje, além de Gabriel Silva, apenas mais três lutadores têm a missão de carregar a bandeira da academia no UFC: o peso galo Felipe Cabocão, o meio-médio Warlley Alves e o veterano meio-pesado Rogério Minotouro.