Num momento em que os wrestlers dominavam a cena internacional, o IVC 6 foi um marco. Wanderlei Silva (Chute Boxe) e Ebenezer Braga (Boxe Thai), representantes das duas principais escolas do Muay Thai brasileiro, mostraram que a agressividade poderia ser um bom antídoto contra o ground and pound. Mas os americanos também surpreenderam trazendo o novato Chuck Liddell para substituir Wallid Ismail numa super luta com Pelé Landi, que naquele momento era considerado o No1 do ranking da divisão até 80kg. Um histórico confronto de 30 minutos que acabou apresentando ao mundo o futuro campeão do UFC. O evento foi realizado no dia 23 de agosto de 1998 na casa de shows Floresta em São Paulo.
3 WRESTLERS EM 6 MESES
Conhecido no Brasil por seu espírito guerreiro e sua capacidade impressionante de reverter resultados adversos, o representante da Boxe Thai e da Budokan, Ebenezer Braga vinha de duas experiências negativas contra representantes do Wrestling. No UVF 6, havia perdido para Kevin Randleman no Rio em luta histórica de 20 minutos, considerada essencial para a vitória de Carlão Barreto na final do torneio. Três meses depois o lutador de Cristo sofreria novamente com o ground and pound dos wrestler perdendo a superluta do IVC 1 para Dan Severn a 8 min17s por TKO.
Pouco mais de um mês após a derrota para “The Beast”, Ebenezer (1,90m/89kg) seria convidado para lutar no IVC contra outro representante do Wrestling, Braden Lee Hinkle (1,87m/90kg). O aluno de Mark Coleman começou arremessando o brasileiro para fora do ringue. A luta voltou em pé e Braga conseguiu acertar um soco em Branden que novamente o levou ao solo iniciando um massacre por dentro da guarda do aluno de Luiz Alves e João Ricardo, que durou quase 8 minutos.
Com o rosto bastante machucado, porém Ebenezer iniciou sua reação, quando o americano tentava acertá-lo por dentro das cordas. Dominando um de seus braços, Braga passou a agredi-lo por baixo com chutes e socos. Aos 12min33s quando o rosto de Branden já estava tão machucado quanto o seu e o americano já mostrava um nítido sinal de estafa, Ebenezer encaixou um triângulo e definiu a luta levando a torcida ao delírio. Dois meses mais tarde Ebenezer seria convidado para lutar na primeira edição do UFC no Brasil, quando finalizaria outro lutador americano, Jeremy Horn. Desta vez com uma guilhotina a 3min27s do 1º round.
O PRIMEIRO CINTURÃO DE WANDERLEI SILVA
Depois de vencer duas lutas e perder a final do torneio IVC 2 para Arthur Mariano, Wanderlei Silva (1,82m/93kg) voltava ao IVC com uma missão indigesta: vencer o duríssimo wrestler americano Mike Van Arsdale (1,86m/93kg), que havia conquistado o cinturão da categoria após finalizar três brasileiros na mesma noite no IVC 4.
Três meses depois Mike conquistaria sua primeira vitória no UFC (17) finalizando Joe Pardo, chegando como favorito absoluto no confronto contra o lutador da Chute Boxe que já tinha cinco lutas de MMA e uma derrota.
Mike começou melhor derrubando Silva duas vezes, mas o brasileiro conseguiu levantar em ambas as oportunidades e, aproveitando a disposição do americano em trocar em pé, acertou-lhe um cruzado. Arsdale caiu tonto e Silva não perdeu a viagem acertando-lhe com um tiro de meta na nuca que obrigou o juiz Batarelli a interromper a luta. Enquanto os médico suturavam um corte e enfaixavam a mão quebrada de seu aluno, Coleman me revelou. “O erro do Mike foi treinar Boxe demais e achar que estava pronto para trocar em pé com o Wanderlei”. Mais radiante que o pessoal da Chute Boxe estava o empresário de Wand. “Depois desta vitória vai ser fácil colocar ele no Pride ou UFC”, revelou Batarelli, promotor do IVC. Dito e feito. Dois meses depois Wanderlei fazia sua estréia no UFC Brasil, enfrentando Vitor Belfort. Um ano mais tarde, depois de vencer mais dois IVC´s e mais uma edição do UFC, Silva finalmente chegaria ao Pride (7) onde reinaria absoluto na categoria até 93kg por sete anos, ganhando o apelido de Mr. Pride.
LIDDELL SUBSTITUI WALLID E VENCE PELÉ
Treinando para lutar com Wallid Ismail, com quem vinha trocando farpas na imprensa desde que o amazonense havia vencido Johil na Super Luta (IVC3), José Pelé Landi (1,82m/85kg), ficou sabendo há menos de um mês do evento que Ismail não chegara a um acordo com o IVC. Sem ninguém no peso para enfrentá-lo Pelé aceitou o desafio de subir uma categoria para enfrentar um inexperiente americano que acabara de estrear com vitória em luta alternativa no UFC 17, seu nome Chuck Liddel (1,87/90kg).
Mesmo sendo da categoria de baixo, Pelé aceitou o convite fazendo uma luta histórica contra o kickboxer americano.
Logo no primeiro minuto Pelé derrubou Liddell e montou, mas o americano conseguiu escapar. Na sequência Pelé acertou em cheio um chute no rosto de Chuck que caiu, mas logo se levantou e passou a capitalizar em cima da guarda baixa do atleta da Chute Boxe. Usando sua maior envergadura e bom wrestling, Liddell passou a dominar o combate tanto na trocação em pé quanto no chão quando imprimiu um perigoso ground and pound. No final dos 30 minutos os juízes não tiveram duvidas em decretar a vitória do americano por 3×0. “Assumo boa parte da culpa por esta derrota do Pelé, insisti que El ganhasse 5kg para lutar com o Liddel que pesa 90kg, dentro da sua categoria continuo achando Pelé imbatível” disse Batarelli
Depois deste confronto, ambos lutadores seguiriam trajetórias vencedora em suas respectivas categorias, se transformando em lendas do esporte. Depois de vencer Johil, Pat Miletich e Matt Hughes, Pelé chegou a ser considerado o melhor médio do mundo em 2000. Já Chuck Liddel passou a ser um dos meio pesados mais dominantes da história do UFC, reinando absoluto entre 1999 e 2006.
*Texto e fotos Marcelo Alonso