Depois de perder para Dan Henderson na seminal do RINGS em resultado controverso,
Rodrigo Minotauro deixou de ganhar o maior prêmio de sua carreira, até então, (US 250
mil). Além disso, perdeu sua invencibilidade e ainda teve que aturar a zoação do
americano que, à época, mandou um engradado de cerveja para seu quarto.
Quase três anos e muitas noites de sono perdidas depois, Rodrigo finalmente
conseguiria sua revanche. E mesmo estando fora de suas melhores condições (com uma
grave contusão no ombro, um dedo quebrado e quase 40oC de febre) o baiano decidiu
que nada o demoveria da idéia de subir no ringue do naquele dia 23 de dezembro de
2002. “Nunca engoli aquela derrota, vou subir no ringue nem que seja arrastado e
mostrar para ele quem é o melhor”.
O Pride 24, disputado na Arena Messe em Fukuoka, teve ainda a participação de
Rogério Minotouro (fazendo sua segunda luta no Pride contra Guy Mezger), Murilo
Ninja (enfrentando Kevin Randleman) e Rodrigo Gracie (contra Yuki Sasaki).
Graças à profissionalização do MMA, hoje os lutadores, são obrigados a entregar
dezenas de exames além de passar por diversos check ups médicos nos dias que
antecedem os eventos. Mas nem sempre foi assim. Cobrindo os bastidores das primeiras
edições do Pride e UFC perdi as contas das vezes que vi lutadores subindo para lutar
totalmente fora das melhores condições. Como neste episódio do Minotauro no Pride 24
em Fukuoka.
Depois da derrota para Hendo, Rodrigo venceu 12 lutas seguidas e logo conquistou o
cinturão dos pesos pesados do Pride, após vencer nomes como Coleman (Pride 16),
Heath Herring (Pride 17), Bob Sapp e Semmy Schilty (Pride 23). Devolver a derrota
para o wrestler era para ele uma questão de honra.
Como se não bastasse uma grave contusão no ombro (rompimento do acrômio
clavicular em grau 3), Minotauro ainda quebrou o dedo do pé nos últimos treinos e
desenvolveu uma sinusite ao chegar em Toquio. Após dois dias de inverno japonês e
treinos a sinusite logo evoluiu para uma febre de quase 40oC, que acabou levando-o ao
hospital, para tomar soro, duas horas antes do evento.
O resultado de toda esta provação pode ser sentida nos primeiros minutos de luta.
Rodrigo entrou nitidamente lento na luta, enquanto Henderson começou em alta
rotação, acertando um direto e aplicando uma bonita queda no brasileiro, que logo o
colocou em sua meia-guarda ensaiando uma bela sequência de golpes. Primeiro um
triângulo, depois uma omoplata e então um crucifixo, que acabou variando para uma
americana que levou o braço de Henderson a nuca. A beira do ringue consegui ouvir os
estalos, mas o guerreiro Henderson não bateu, escapou e voltou em pé.
No segundo round, após breve trocação, Minotauro caiu por baixo novamente, mas logo
raspou e montou atacando um armlock. O americano defendeu, mas passou a dar sinais
de cansaço.
No terceiro round Rodrigo encurralou o oponente e quase conseguiu nocauteá-lo em pé
com duas joelhadas. Percebendo o bom momento, Minotauro derrubou o wrestler,
passou a guarda, montou e fintou uma americana, variando para o armlock. Henderson
bem que tentou resistir, mas acabou dando os três tapinhas a 1m49s do 3º round.
“Estava com esta derrota atravessada, tenho certeza que fui prejudicado pela arbitragem,
não vim nas melhores condições, mas graças a Deus deu tudo certo”, comemorou
Minotauro após a luta.
Rogério Minotouro vence com Muay Thai
Na mesma noite que Rodrigo fez a luta principal com Hendo, Minotouro faria a sua
segunda luta no Pride. Depois de finalizar o japonês Yusuke Imamura (Pride 20) com uma guilhotina em apenas 35 segundos, Minotouro pegava o bem mais experiente Guy Mezger que já tinha 40 lutas.
Pela primeira vez Rogério mostraria seu talento em pé no MMA, usando o Muay Thai
que começara a treinar com Luiz Alves para surpreender Mezger, vencendo o 2º e 3º
rounds e ganhando a luta na decisão dividida.
No ano seguinte Rogério se firmaria como grande nome da categoria após finalizar
Nakamura e vencer Sakuraba na decisão.
Ninja perde na melhor luta da noite
Na era Pride se havia um lutador que nunca teve seu emprego ameaçado, este foi Murilo
Ninja. Independente de vitória ou derrota, o curitibano sempre fazia as melhores lutas
da noite.
E o ano de 2002 foi especialmente impressionante na carreira deste representante da
Chute Boxe, que enfrentou Mario Sperry (Pride 20), Ricardo Arona (Pride23) e Kevin
Randleman (Pride 24).
Difícil dizer que a luta com Randleman foi sua melhor em 2002, mas como de praxe,
levantou a galera. Ninja começou sendo derrubado, mas conseguiu colocar o wrestler
em sua meia guarda encaixando uma Kimura e raspando, chegando a montada na
sequência. Mas Randleman logo explodiu,escapou e voltou de pé.
Depois de levar vantagem no primeiro round (de 10min), Ninja conseguiu novamente
raspá-lo passando boa parte do segundo round no cem quilos, agredindo o oponente.
Depois de quase 3 minutos em desvantagem, o aluno de Coleman voltou de pé e acertou
um duríssimo cruzado no olho esquerdo do brasileiro, que acusou o golpe.
No terceiro round o brasileiro resolveu partir para a trocação e se deu mal. Randleman
acertou-lhe um direto que abriu um corte e fechou seu olho esquerdo, obrigando os
médicos a interromperem o combate.
Sperry inicia trégua entre BTT e Chute Boxe
A contusão de Ninja acabou abrindo caminho para o início de uma trégua na enorme
rivalidade entre Chute Boxe e BTT.
E a bandeira branca foi levantada numa bela atitude do líder da BTT, Mario Sperry, que
lutara com Ninja oito meses antes.
Amigo pessoal do comandante da Varig, Sperry o pediu que colocasse Ninja na
primeira classe daquele Tokyo – Los Angeles uma vez que o atleta estava contundido.
A atitude de Sperry acabou levando Rudimar, Ninja e Rafael a convidarem o líder da
BTT para dividir uma mesa no intervalo da conexão do vôo de Los Angeles para o Rio.
Após passarem duas horas contando histórias dos bastidores e dando boas gargalhadas
juntos, o clima entre as duas equipes melhorou bastante.
Rodrigo Gracie vence Sasaki
Após finalizar Daijiro Matsui (Pride 19) com uma guilhotina, Rodrigo Gracie chegou ao
Pride 24 com moral para enfrentar Yuki Sasake, que vinha de um empate com Gustavo
Ximú e de uma vitória sobre Alex Stiebling
Muito bem treinado por Renzo e Ricardo Cachorrão, Rodrigo usou a tática certa de
fintar a trocação e derrubar o oponente nos três rounds, vencendo na decisão unânime.
*Texto e fotos: Marcelo Alonso