Muito se fala da histórica cobertura do Pride GP em 2003, feita por Glória Maria para o Fantástico em 2003, na antológica transmissão ao vivo feita pela Rede TV no UFC Rio 1, mas poucos lembram que o primeiro empresário de TV a fazer uma transmissão do UFC ao vivo, foi Silvio Santos em Junho de 2002. Contei detalhes dos bastidores e da negociação deste evento na última edição do Raiz do MMA (clique aqui para assistir).
Texto e fotos: Marcelo Alonso
Essa história começa no retorno de Belfort do Pride para o UFC. Vindo de uma seqüência de quatro vitórias no evento japonês (Gilbert Yvel, Daijiru Matsui, Southworth e Heath Herring), o Fenômeno aceitou retornar com a proposta de enfrentar o campeão Tito Ortiz logo na primeira luta. O Combate já estava inclusive assinado, quando o Bad Boy de Huntington se contundiu e o UFC decidiu ofertar o talento em ascensão, Chuck Liddell, que vinha de nocautes sobre Kevin Randleman e Guy Mezger e vitórias por pontos sobre Suloev e Bustamante. “O Liddell ainda não tinha nome na época. Como o Silvio Santos sabia que eu tinha um caso com a Joana, e queria criar um casal naquela 2º edição da Casa dos Artistas, me fez uma proposta financeira bem melhor para entrar já com o programa em andamento”, relembra Belfort, revelando uma condição que impôs ao Homem do Baú. “Se eu aceitasse, Ele transmitiria uma luta minha ao vivo no SBT”.
Martelo batido, Belfort fez sua parte apimentando a audiência engatando de vez seu namoro com Joana Prado, que a época tinha acabado de sair na capa da Playboy e era a mulher mais cobiçada do país. Ao término do programa, no dia 19 maio, Vitor percebeu que valeria a pena aproveitar o calor dos acontecimentos e não correr o risco de ver Silvio Santos mudar de idéia, aceitando a tal luta com Chuck Liddel dali a um mês. “A minha patrocinadora BMG comprou a transmissão por 10 mil dólares. Mesmo sabendo que eu não teria como estar em forma com 3 semanas de treino, eu tinha noção do que aquilo significava para o esporte, por isso aceitei o desafio”, lembra Belfort.
LIDDELL VENCE DE VIRADA
Com a ajuda de Paulo Caruso (preparação física), Darrel Gohlar (Wrestling) e Paulo Nikolai (Muay Thai), Belfort chegou ao octógono, montado no auditório do Cassino Bellagio em Las Vegas no dia 22 de junho, longe de sua melhor forma e ciente de que uma derrota por nocaute poderia significar o enterro definitivo no Brasil, do já tão mal falado Vale-Tudo.
Apesar de tudo o clima era de otimismo, afinal de contas a seleção brasileira havia acabado de despachar a temida seleção inglesa na Copa do Mundo levando a barulhenta torcida brasileira a comparecer em peso ao auditório do cassino.
Belfort começou o combate atacando as pernas de Liddell duas vezes e colocando-o para baixo, mas em ambas as oportunidades o moicano levantou. A partir daí Belfort, orientado por seu preparador Paulo Caruso, decidiu passar todo o primeiro round aguardando o americano para contra atacar.
Ciente de que precisa economizar gasolina para o terceiro round, o brasileiro deixou Liddell crescer no segundo round, deixando a definição da luta para o terceiro round.
Ciente de que os 5 últimos minutos definiriam o combate, Vitor partiu para o ataque, dando a impressão que levaria a luta. Até que aos 3min45, Chuck se esquivou de uma seqüência de golpes do brasileiro, e contra atacou com um cruzado certeiro no queixo, que derrubou o Belfort e acabou sendo definitivo para o resultado da luta. “Sabia que o acertaria mais cedo ou mais tarde, agora quero o cinturão”, me disse Liddell na saída do octógono, já sonhando com a tão aguardada disputa de cinturão com seu ex-companheiro de treinos, Tito Ortiz. “O Tito é um grande amigo, mas na hora da luta será diferente”.
12 PONTOS NO SBT E O NASCIMENTO DO PREMIERE COMBATE
O clima de tristeza pela derrota nos bastidores, foi apagado pelas palavras de incentivo do treinador Paulo Nikolai: “Um sujeito que treina três semanas, depois de ficar dois meses num Reality Show e um ano parado e faz um super combate com um cara que está há seis meses treinando e lutando tudo. Vitor, não tenho duvidas que se você tivesse há seis meses treinando o Liddell não passaria do primeiro round”.
No dia seguinte ao evento, o SBT revelaria números de audiência impressionantes: 12 pontos no Ibope. Não só batendo a Globo, mas marcando um recorde de audiência para a emissora naquela faixa. O pioneirismo do SBT serviu para ratificar os números do SporTV, que há algum tempo já vinha apontando o Vale-Tudo como segunda audiência, atrás apenas do futebol. Dois meses após o UFC 37.5, em agosto de 2002, nascia o canal Premiere Combate, o primeiro canal de TV a cabo do mundo 100% dedicado aos esportes de combate.
SOBRINHO DE RUAS PERDE PARA FRYKLUND
Rodrigo Ruas foi outro brasileiro presente no card deste evento. Com 4 lutas e 3 vitórias no MMA, Rodrigo pegou o bem mais experiente parceiro de Pat Miletich, Tony Fryklund, que estava invicto com 7 lutas de MMA. Apoiados pelo tio Marco, ladeado pelos faixas pretas Joe Moreira e Castello Branco, Ruas começou melhor em pé, mas logo a diferença física e a melhor técnica de Wrestling do americano começaram a fazer a diferença. Rodrigo resistiu bravamente ao Ground N Pound do americano até 3min45s do 2º round, quando o juiz Kipp Kohlar interrompeu o combate decretando o nocaute técnico.
LAWLER ATROPELA EM SUA SEGUNDA LUTA
Mas sem dúvida a grande sensação desta edição do UFC foi o novato Robbie Lawller. Pouco mais de um mês após estrear no UFC 37 vencendo, numa luta antológica, o favorito Aaron Riley, que já tinha 23 lutas, Lawler voltou ao octógono para enfrentar Steve Berger. E depois de dominar inteiramente o primeiro round , Lawler definiu a luta com um direto de direita no 2º round. Curiosamente, 12 anos e 30 lutas mais tarde, Lawler se consagraria como maior meio médio do mundo ao vencer o campeão Johnny Hendricks levando para casa o cinturão do UFC.
Quem também lutou neste card foi Yves Edwards, que já tinha 27 lutas no currículo e não teve dificuldades para nocautear o brasileiro Marcos Pierini com um chute certeiro no queixo a 1m19s do 1º round.
Unidimensional o irmão de Matt Serra, Nick Serra, teve dificuldades para finalizar o striker Benji Radach. Mas apesar de ter protagonizado os melhores momentos do combate, chegando próximo e encaixar dois triângulos, as vaias da torcida toda vez que Serra puxava para a guarda, acabaram fazendo a diferença e Radach conseguiu a vitória unânime.