As seis vitórias seguidas de Rickson Gracie nos dois torneios Vale-Tudo Japan (1994/1995) levaram os japoneses idolatrarem sua família e os lutadores brasileiros.
Muito antes de os criadores do Pride convidarem o Gracie para enfrentar Takada na primeira edição do Pride (Outubro de 1997), o promotor japonês Hideki Miura, que já havia feito duas edições do Gaisey Challenge no Brasil, com a ajuda do mestre João Alberto Barreto, teve a idéia de trazer alguns dos melhores representantes do Jiu-Jitsu e da Luta-Livre para se apresentarem para o público japonês no 1º Universal Vale-Tudo Fighting.
Realizado no dia 5 de abril de 1996 no ginásio Komazawa Olimpic em Tóquio, o UVF 1 trouxe oito brasileiros provenientes de três grupos distintos. Um do Jiu-Jitsu e dois da Luta-Livre. No grupo do Jiu-Jitsu estavam Wallid Ismail e Carlão Barreto, com Carlson Gracie, Ricardo Libório (córner), João Alberto Barreto (organizador e arbitro) e seu aluno Waldir Pimenta; num grupo da Luta-Livre, estavam João Ricardo (Budokan) e seus alunos The Pedro, Ebenezer Braga e Johil de Oliveira e no 2º grupo da Luta-Livre estavam Carlos Brunocilla e seus alunos Hugo Duarte, Marcelo Mendes, Antônio Bigú e Marcelo Bertolucci (córner).
Num momento onde o clima de rivalidade entre as duas modalidades ainda era grande e simples encontros na zona sul do Rio muitas vezes terminavam em confusão, imaginar Hugo e Wallid num mesmo avião já seria naturalmente motivo de preocupação, mas o fato é que ali naquele momento, depois de tantos anos de guerra, todos estavam finalmente viajando profissionalmente. E mais que isso, representando uma espécie de seleção brasileira que enfrentaria atletas do mundo todo.
Obviamente a liderança dos mestres João Alberto, Carlson Gracie, Carlos Brunocilla e João Ricardo foi um grande diferencial para que tudo terminasse bem.
CARLÃO E WALLID FINALIZAM COM MATA-LEÃO
Os dois representantes do Jiu-Jitsu fizeram sua parte no evento. Enfrentando o australiano Dennis Kefalinos que tinha em seu currículo nove nocautes em 12 vitórias, Wallid fez a luta mais rápida da noite, derrubando o oponente, montando e conseguindo encaixar um mata-leão a 2min10seg do 1º round após alguns socos da montada.
Na época ainda faixa marrom, o campeão mundial pesado, Carlão Barreto foi convidado para substituir Vitor Belfort, enfrentando o russo campeão de sambo, Mikhail Iloukhine, ou Yuri Micha, cuja única derrota havia sido para o gigante Ricardão na Rússia, quando o brasileiro terminou a luta deformado pelos socos do russo na guarda.
Como era esperado Carlão começou caindo por baixo, mas com seu mestre Carlson e Libório em seu corner manteve a calma e impôs a tática de deixar o russo se cansar tentando acertá-lo da guarda. Durante os dez primeiros minutos (1º round), Barreto ficou tranquilo por baixo se defendendo das investidas do russo.
No segundo round, Carlão defendeu uma tentativa de queda, caiu por cima de Micha e, após acertá-lo com socos da montada, pegou suas costas e encaixou um mata-leão, para delírio de Carlson, Wallid, Libório e Waldir Pimenta, que invadiram o ringue para comemorar a vitória que colocaria Carlão que passaria de faixa marrom inexperiente a principal peso pesado da equipe de Carlson.
LUTA-LIVRE BUDOKAN TRATORIZA
Misturando o chão ensinado por João Ricardo com o Muay Thai de Luiz Alves (Boxe Thai), os representantes da Budokan impressionaram os japoneses pela maneira traumática com que venceram seus oponentes.
Depois de derrubar Naohisa Kawamura, Ebenezer bateu tanto no japonês que este desfaleceu no ringue com os rosto deformado a 3min17seg de luta.
Johil de Oliveira seguiu a mesma cartilha, não tendo dificuldades para derrubar, pegar as costas e bater tanto em Akira Nagase a ponto de quebrar dois dedos da mão. Diante do rosto do japonês, ao final do primeiro round, os médicos não permitiram que este voltasse.
Fazendo a luta principal do evento contra o ídolo local, representante do Sumo, Koji Kitao (2 metros 170kg), The Pedro caiu por baixo. Mas sem saber o que fazer por cima, o japonês tentava enfiar o dedo no olho do brasileiro que gritava para que o juiz João Alberto Barreto coibisse sua atitude. Aos poucos Kitao foi cansando e permitiu que o brasileiro chegasse as suas costas. Em posição de vantagem, The Pedro acertou uma série de cotoveladas e obrigou o japonês a desistir a 5min49s do 1º round.
HUGO DESAFIA RICKSON E SELA PAZ COM WALLID
Se no grupo de João Ricardo todos venceram, no grupo da Luta-Livre de Carlos Brunocilla, só Hugo Duarte conseguiu finalizar seu oponente.
Fazendo a penúltima luta da noite contra Diusel Berto, Hugo não teve problemas para derrubar o oponente e finalizá-lo com uma Kimura do cem quilos, seu golpe predileto.
Ciente da fama de Rickson Gracie no Japão após conquistar duas edições do Japan Open, Hugo aproveitou as entrevistas após a luta para desafiar o Gracie para uma trilogia em solo japonês. Dali a 18 meses Rickson voltaria ao Japão, mas para enfrentar Nobuhiko Takada na 1º edição do Pride.
A exceção de Hugo, todos os representantes de sua equipe foram derrotados. Antônio Bigú começou lutando bem contra o bem mais pesado Todd Medina, mas depois de levar vantagem nos minutos iniciais acabou sendo finalizado a 6min06seg com uma guilhotina.
Na pior luta da noite Marcelo Mendes, que havia sido vencido por Murilo Bustamante no Desafio entre Jiu-Jitsu e Luta-Livre em 1991, não conseguiu se encontrar diante do grandalhão Michael Stam, que o fez literalmente fugir do ringue em duas oportunidades.Na última delas, o brasileiro não voltou para a luta.
Depois de quatro dias de clima pesado entre o pessoal do Jiu-Jitsu e Luta-Livre nos bastidores do Hotel Shinagawa Prince, o general da Luta-Livre, no dia seguinte ao evento, deu o primeiro passo para acabar com a guerra entre as duas modalidades que já durava mais de dez anos no Rio. Depois de cumprimentar todo o grupo do Jiu-Jitsu, Hugo deu um abraço no maior rival, Wallid: “Dá um abraço aqui, vamos acabar com esta rivalidade”. Dois anos mais tarde em 1998 no Pride 4, Carlson retribuiria a atitude de Hugo ficando em seu corner de Hugo em sua luta contra Mark Kerr.