Algumas lutas acabam entrando no imaginário dos fãs como duelos dos sonhos. Wanderlei Silva e Randy Couture é, sem dúvida, um destes. Uma luta que só não aconteceu por caprichos do destino, afinal de contas durante um bom tempo ambos chegaram a ser os maiores meio-pesados do mundo. Só que o brasileiro era o rei do Pride e Couture dava as cartas no UFC. Em 2003 Dana e os irmãos Fertitta aceitaram emprestar um lutador do UFC para o GP do Pride. Mas como Couture havia acabado de conquistar o cinturão interino, nocauteando Chuck Liddell decidiram preservá-lo para a disputa linear com Ortiz (quando Couture viraria campeão linear), cedendo seu No2 ao torneio japonês. E Liddell começou com o pé direito no torneio japonês nocauteando Overeem em 3 minutos, mas acabou sendo nocauteado por Rampage na semifinal. Na grande final Wanderlei atropelou Rampage se sagrando campeão do GP do Pride.
Texto e fotos: Marcelo Alonso
O sonho de Dana chegou a ser ensaiado quando Wanderlei apareceu no UFC 49 com seu cinturão, em 2004, e subiu ao octógono para parabenizar Couture, que naquela noite havia vencido Vitor Belfort, na revanche, retomando seu cinturão dos meio-pesados. Os dois melhores lutadores até 93kg do mundo ficaram lado a lado, mas o desafio nunca avançou.
Dana White só conseguiu ir adiante com seu desejo de fazer lutas entre o UFC e o Pride a partir de 2007, quando comprou o evento japonês e encerrou as atividades do show, levando quase todos os lutadores a competir no Ultimate. O sonho de ver Wanderlei e Couture se enfrentando, no entanto, não se concretizou. Na época, Couture voltou para o peso-pesado e enfrentou outra lenda brasileira que veio do Japão, Rodrigo Minotauro, enquanto Wanderlei seguiu no meio-pesado estreando no UFC contra Chuck Liddell. Curiosamente, nesta época Wanderlei decidiu abandonar a Chute Boxe e se mudar para Las Vegas em outubro de 2007. E a convite de Randy fez seu camp na XTreme Couture. Lá chegando, sem falar inglês, encontrou Ronaldo Jacaré e Robert Drysdale, que o ajudaram muito na sua adaptação.
Estive em Vegas algumas semanas antes da luta em dezembro para acompanhar a readaptação do maior ídolo do MMA brasileiro e pude acompanhar, um destes sparrings entre o “Ax-Murder” e o “The Natural” que muitos fãs pagariam ingresso para assistir. Os dois fizeram três rounds de 3 minutos de Boxe valendo quedas. Obviamente em ritmo de sparring. Couture derrubou Wanderlei duas vezes, o brasileiro respondeu acelerando o ritmo, acertando um cruzado em Couture e o derrubando em seguida. O treino respeitoso entre as lendas foi neste ritmo de aquecimento até o final, quando os dois se abraçaram respeitosamente. Na sequência as duplas foram trocadas e Wanderlei caiu com Forrest Griffin, que no mês anterior havia finalizado seu principal parceiro de treinos na Chute Boxe, Mauricio Shogun em sua estreia no UFC 76. Neste caso o sparring não foi tão respeitoso. Wanderlei ligou o modo Axe Muder e o treino virou uma luta de verdade, com direito a knock down e olho roxo.
Semanas após este treino que testemunhei, Wanderlei fez sua estreia no UFC perdendo para Chuck Liddell no UFC 79 em uma das melhores lutas da história do evento. Três meses após aquele sparring que acompanhei em Vegas, seria a vez de Forrest conquistar o cinturão dos meio-pesados do UFC vencendo o maior rival de Wanderlei, Quinton Rampage no UFC 86.
Em 2008 o Mr. Pride abriu sua própria academia em Las Vegas e ainda continuou em atividade por mais dez anos, se aposentando aos 42 anos. Já Couture perdeu o cinturão dos pesados para Brock lesnar e não voltou a reconquistá-lo, se aposentando em 2011, aos 47 anos. O reconhecimento a tudo que os dois fizeram veio com a indicação de ambos para o Hall da Fama do UFC, mas o combate dos sonhos ficou apenas na imaginação.
